domingo, 13 de março de 2011

Feridas Abertas



FERIDAS ABERTAS





Marta, jovem mãe,moradora da Vila dos Costas, distrito de Natura, Paraíba, recebe a equipe do jornal na desolação de seu lar.
A fome de seus filhos, somada à sua própria fome.
Fome de comida, de esperança, de dignidade...

No seu povoado, Vila dos Costas, as famílias vivem como refugiados. As terras onde moravam foram inundadas pela barragem de Acauã.

O governo levantou as casas no endereço novo, mas se esqueceu de levar dignidade para a nova morada. Quando a reportagem pede para conhecer a cozinha de sua humilde casa, descobre que no armário de duas portas tudo o que tem é resto. Restos de fuba, de sal e um pacote aberto de açúcar.

O arroz e o feijão acabaram há uma semana. A mulher forte, com um jeito discreto, quase cabreiro, que cria sozinha os filhos
e ainda cuida de dois sobrinhos,já ao final da visita da equipe de reportagem, desaba num choro incontido que a tod
os impressiona. O choro de Marta, nos relata o fotógrafo, não é um choro de humilhação, de resignação, de tristeza por não ter o que comer.

De quem aceita o destino porque assim Deus quis.


O seu choro não é senão
um choro-explosão, um choro-revolta, um choro de indi
gnação e de vergonha porque
assim o homem quis. Marta Maria da Silva, 28 anos, é analfabeta e parece ter a exata consciência de que o flagelo da fome, imposto a ela e aos seus três filhos, não é obra divina. E sim humana.

Coisa do homem contra o homem.
E isso ela se recusa a aceitar;

daí o seu choro incontido.
Não há maneira de enxugar lágrimas como estas.


Lágrimas que brotam de um coração vitimado pela injustiça.

Não há maneira de enxugar lágrimas como estas. Lágrimas que brotam de um coração vitimado pela injustiça. Marta abraça o filho de dois anos. Pequeninas mãos enxugam as suas lágrimas.


Quem consola,

e quem é consolado?

Qual o limite de dor e desalento

que um coração humano consegue suportar?...


“Ninguém merece passar por isso.

Ninguém”,


repete Marta...

...antes de esconder-se no quarto, para chorar mais alto e sozinha.

A equipe de reportagem precisa partir.

Deixa para trás Marta, seus três filhos, e o mar de lágrimas provocadas pela insensatez humana.


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